
Entre a boca da noite e a madrugada, muita cidade passou, muito caso eu aprendi, muitas pessoas ganhei, outras tantas eu perdi, vi gente de toda sorte, gozei encontros com a vida, sofri encontros com a morte.
Muita angustia foi calada, muita mágoa foi oculta, muito caminha andado, muito sapato acabou, muito custou aprender no grande livro do mundo.
Tanta surpresa encontrei nos olhos do mau vizinho,, tanta traição morava na mão que bondosa vinha, tanta pérfida intenção por trás da palavra amor, às vezes desinlusão trazia o nome do amigo, tanto fogo já pegou no meu embornal de sonho, tantya rosa ficou murcha, tanta mulher me queimou, tanto verso se apagou, tanta prece foi rezada na hora aflita da dor.
Tanto pôr-de-sol guardei, tanta noite não dormi, tanta insônia cultivei, madrigada apascentei, muita aurora atocaiei, muitas estórias ouvi, algumas delas contei, outras tantas escrevi.
Tudo, entre a boca da noite e a madrugada
Entre a boca da noite e a madrugada tudo aumenta – o amor, a paz, o sono, o sonho, o silencio, o ódio, o mistério, o medo, a população.
De Entre a boca da noite e a madrugada, 1971
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